Wednesday, 24 November 2010

2010 Hawke's Bay Ukulele Festival


E terminou ontem à noite, com chave de ouro o Festival de Ukeleles de Hawke's Bay 2010, com a apresentação da sensasional Ukulele Orchestra of Great Britain. No sábado, 20/11 aconteceram os shows do Ukulele Bartt, um californiano hippy que divulga o instrumento mundialmente, e do incrível trio kiwi The Nukes, que conta com um banjolele (ukulele banjo).



No domingo foi o dia de jam sessions com artistas locais, mais uma palhinha do Bartt e dos Nukes, e a tentativa de quebrar o recorde mundial de ukuleles tocando ao mesmo tempo. Desde molecada de escola até senhorinha apareceu para tocar, mas setecentos e poucos ukuleles não foram suficientes para o recorde. Mas mesmo assim foi muito divertido.



E como já citei, o concerto de ontem à noite foi simplesmente incrível. Uma pena não poder levar a câmera dentro do teatro, essa vai ter que ficar só na memória mesmo. E sim, eles tocaram o tema do The Good, the Bad and the Ugly, assim como Smells Like Teen Spirit. E levei meu uke também para tocarmos todos juntos uma parte da 9a sinfonia de Beethoven.

Aqui estão algumas fotos do evento.





Saturday, 31 July 2010

Ukulele ou Ukelele?

Ukulele (pronuncia-se you-ke-LE-le) é um instrumento de 4 cordas semelhante ao cavaquinho, que foi inventado no século 19 e introduzido no Hawaii pelos imigrantes portugueses. Ukulele com 'u' é o nome original do instrumento, na língua havaiana. Ukelele (com 'e') também é muito utilizado, principalmente na Europa. E também pode ser chamado simplesmente de 'uke'.

Na verdade ele foi inspirado no cavaquinho, que é também de origem portuguesa. A principal diferença entre os dois é que no ukulele utilizam-se cordas de nylon e no cavaquinho de aço, além da afinação ser diferente também. Outra característica do uke é a quarta corda que é mais fina do que a terceira e a segunda, sendo assim o 'baixo' é uma nota aguda e assim faz com que ele tenha um som muito característico.

A afinação padrão é G-C-E-A (sendo a quarta corda apenas um tom abaixo da primeira), formando assim o acorde C6 quando tocam-se as cordas soltas:
E há também outras variações de afinações e também tal do ukulele barítono, que é um pouco maior, e a quarta corda é a mais grave de todas, como na maioria dos intrumentos. Bom já falei demais, agora vou aproveitar para mostrar meu talento com o uke!





Sunday, 20 June 2010

Supermercados

Eu não gosto de ir em supermercados. Nem mini-mercados, hiper-mercados, ou simplesmente mercado, sem adjetivos.

Gaetner, Comper, Mini-Preço, Pão de Açúcar, Cooperativa Hering, Itageli, Big, Archer e Bombeach.

Outros com nomes semelhantes, que parecem nomes de duplas sertanejas (oh, agora se chama Sertanejo Universitário né? foi o jeito criativo que encontraram para atrair a juventude bonita e descolada): Angeloni & Angelina, Jangada & Janaína, Guarimar & Guarezi.

Também os zelândicos Foodtown, New World, Countdown, Woolworths, 4Square e Pak 'n Save.

E muitos, muitos outros.

Não gosto de ir no supermercado. Supermercados sugam minhas energias. Filas, aquelas tias atravessadas nos corredores, criança ranhenta botando a mão na bunda, no nariz, nos produtos nas prateleiras e ultimamente, no seu carrinho.

Também é muito chato ouvir briga de casal atrás de você na fila. Argumentos como 'olha que barato, vamos levar!', seguido da resposta afiada e fria do cônjuge 'barato é o marido da barata!'.

Não gosto de ir no supermercado com fome. Recomendo que ninguém vá ao supermercado com fome. Principalmente quando não tem tiazinhas servindo petisquinhos. Quando vou no supermercado com fome sempre compro mais do que é preciso.

Mas ir de barriga cheia também não é bom, pois não tenho vontade de comprar nada. Sempre acabo comprando menos do que eu preciso.

Uma técnica para gastar pouco é pegar uma cestinha ao invés do carrinho. E respeite a única regra desta brincadeira: só vale comprar o que couber na cestinha.

Para os mais radicais a dica é nem pegar cestinha: só vale levar o que puder carregar nas mãos. Nada de levar o pão debaixo do suvaco ou segurar com os dentes. Só valem as mãos, talvez ajudar com o antebraço, mas somente em casos especiais.

Preciso de uma lista sempre que tenho que comprar 4 ítens ou mais.

Cogumelos não são vegetais, mas eles colocam para vender ao lado do tomate, do limão e do abacate. Mas o nome do departamento aqui na NZ não é Vegetables, e sim Fresh Produce. Então ponto para eles nessa.

Muito interessante é o tal do muttonbird: é uma ave, mas tem nome de carneiro (mutton), e colocam pra vender na sessão de frutos do mar. Vai entender.

Falando em frutos do mar, "Frutos do Mar" eu acho um termo muito poético. Para mim isso significa o seguinte:

"A produção de um trabalho duro dos pescadores, homens do mar, que enfrentam mares revoltosos cheios de criaturas furiosas. Deixam suas mulheres em terra firme, esperando o retorno do barco com a fartura da pesca. E à noite bebem, dançam, se amam e regozijam como nunca, até que seja hora de partir novamente".

Em francês é o mesmo nome: fruits de mer, e soa ainda mais romântico e poético. Mas em inglês é seafood (comida do mar): muito simples e tosco.

Falando em food, nas tavernas de beira de estrada da Nova Zelândia está escrito na placa da frente simplesmente FOOD. Simplesmente FOOD. Nem pelo menos restaurant, ou meals, ou snacks. Simplesmente COMIDA. Pode se esperar qualquer coisa vinda de lá. Uma vez lá nos cafundós de Coromandel Peninsula, 10 da noite de um dia de semana, estava num camping e não tinha nada para comer. O único lugar aberto naquela hora era uma taverna, e juro pra vocês que o cara que me atendeu era o Ronnie Wood. Eu estava esperando comer um hamburguer ou algo parecido, mas a única 'comida' disponível era batata frita de saquinho. Daquelas que parecem isopor. E Coca-Cola.

Falando no Ron Wood, aqui em Hawke's Bay tem um café no centro da cidade onde o Keith Richards trabalha. Um cara lá pelos 50, com a cara surrada de noites e festas. Parece que os Rolling Stones estão por aqui fazendo bico. Meu amigo Rodrigo Kammer, ex-residente de Mount Maunganui, me disse que o baterista do AC/DC mora em Papamoa Beach. Vejam vocês: uns trabalhando em bares, outros dirigindo táxis, caixa de supermercado...

Aqui na NZ tem algumas coisas interessantes para vender em supermecardos. Carne moída de frango é uma delas. Carne moída de porco é outra. Tem também hambúrguer de salsicha (ou seria salsicha de hambúrguer?). Tem pão de queijo da Yoki também, made in Brazil, traduzido como cheese bread, e esta tradução é infeliz.


Tem aquele tal de Vegemite, que não passa de uma 'geléia de fermento'. O gosto é horrível. Ou você gosta 100% ou detesta 100%. Sou da turma que detesta 100%. E quem gosta geralmente passa na torrada, ou ainda na cenoura. Sim, na cenoura, tentando imitar brasileiros comendo banana com mel. Vegemite com cenoura: uma iguaria sem igual.

Vegemite é uma marca (da Kraft). Mas virou conceito, assim como gillette, bombril e nescau. Quando pergunto à alguém se gosta de Vegemite, normalmente dizem que não. Mas em seguida dizem 'eu prefiro Marmite', que é a outra marca rival. Só para efeito de informação, a diferença entre Vegemite e Marmite é a mesma que entre merda e cocô.

Eu fico puto da cara quando eles retiram os meus produtos preferidos das prateleiras. Simplesmente param de comercializar. Um exemplo foi a barrinha de cereal da Cadbury sabor Fruit & Nut. Era a minha preferida e eles não vendem mais, e substiruíram por aquele maldito sabor de raspberry (framboesa). Para mim framboesa é morango de pobre, assim como São Paulo é New York de pobre. Pronto, falei.

Aqui tudo é de raspberry. Bolo, iogurte, chocolate, primeiro ministro, Fanta, e até aquele pinheirinho para dar cheiro bom no carro. Pinheiro de carro vem nos sabores 'brisa do mar', 'carro novo' ou 'raspberry'.

Um dos ítens mais contrangedores de se comprar num supermercado é papel higiênico. Sempre compro em fardos de 12 ou 18 rolos porque é mais barato. E quando estou colocando no carrinho parece que todo mundo olha pra mim pensando olhá lá, lá vai o cagão, ou porra esse caga pra caralho.

Bom, já falei demais e estou tomando seu precioso tempo. Com licença, preciso sair agora. Tenho que ir no supermercado.

Friday, 18 June 2010

Pollo con Avocado

Alho, vinho e abacate: você já pensou em misturar estes três ingredientes? Eu não. Ainda bem que um dia alguém me mostrou esta delícia. Aprendi esta receita quando trabalhei no Fettuccine Brothers em Gisborne, um restaurante italiano, mas nem tão italiano. A combinação destes três ingredientes é delicada, sutil e saborosa. E ainda por cima é de fácil execução.


Pollo con Avocado (Fetuccine com Frango e Abacate)

Ingredientes (2 porções):

- 350g massa fettuccine fresca ou dura;
- 300g peito de frango cortado em cubos;
- 1 cebola grande cortada fina;
- 5 dentes de alho picados finos;
- 200ml de vinho branco, pode ser do barato e/ou aquele resto (se é que existe resto) que está na sua geladeira já faz um tempinho e tem cheiro de vinagre, não dá nada!;
- 1 abacate médio cortado em cubos;
- 300ml de leite;
- 1 colher (sopa) farinha;
- óleo;
- sal e pimenta à gosto;
- queijo parmesão;
- cebolinha ou tempero verde cortado bem fino para decorar;


Cozinhe a massa normalmente com água, sal e um pouco de óleo. Numa frigideira grande aqueça o óleo e frite o frango e a cebola. Assim que o frango ficar branco (pode até ainda ter alguns pedaços rosados), acrescente o vinho e o alho e refogue até o vinho evaporar (até o cheiro de álcool sumir). Em seguida baixe o fogo para médio e adicione o leite, sal e pimenta e mexa por 3 minutos. Adicione a farinha lentamente, sempre mexendo. A farinha serve para engrossar o molho. Adicione o abacate e deixe cozinhar por mais 1 minuto. Não mexa muito nessa hora para não desmanchar o abacate. Coloque a massa no prato (ou cumbuca!), molho por cima, em seguida o queijo ralado e uma pitada do tempero verde para decorar. E está pronto! Recomendadíssimo com um Chardonnay e luz de velas!



Monday, 24 May 2010

Geografia

Sempre gostei de Geografia. Sempre gostei de mapas. Sempre soube os nomes das capitais de boa parte dos países do mundo. Ficava chocado ao ver alguns de meus colegas em classe que não sabiam na ponta da língua, por exemplo, qual era a capital de Portugal ou do Piauí.

Quando ainda estava no Brasil eu ouvia que os Americanos não entendiam muito de geografia, achavam que o Brasil ficava na África e que a nossa capital era Buenos Aires: um tremendo insulto.

Ao chegar na Nova Zelândia percebi que o mesmo problema acontece aqui. Exemplo:

Kiwi: Where are you from?
Eu: Brasil.
Kiwi: Brazil? So you're from Puerto Rico, right?

Com o tempo eu comecei a entender e até considerar porque os kiwis (principalmente o povão que não estudou suficiente e que não é viajado) não entendem muito de geografia. Tentei pensar da maneira como eles vêem o mundo, e cheguei nas seguintes conclusões:

A Nova Zelândia é uma ilha. Ou melhor, duas ilhas pequenas. Mas nem tão pequenas (experimente dirigir de Dunedin até Auckland e você verá que é longe pra caralho). Ou seja, para eles não existe a noção de fronteira com outro país. De entrar em outra nação caminhando, ou dirigindo um carro. É só água pra tudo que é lado. E ainda por cima a água é fria.

Aí veja o exemplo do vizinho ao lado: Austrália. Também é uma ilha, só que muito, muito maior. Tão grande que chamam de continente. Mas tem só um país lá dentro. E o país tem o mesmo nome do continente. E tambem não fazem fronteira com ninguém. Também só água pra todos os lados, embora um pouco mais quente.

Antigamente chamavam essa área aqui de Oceania. Um continente de água com milhares de ilhas e micro-nações. Hoje em dia se chama Australasia, e as ilhas tropicais (Fiji, Samoa, etc) são Pacific Nations.

Já que a vizinhança é uma confusão, a lógica seria procurar uma resposta no país-mãe: Inglaterra. Ou seria Grã-Bretanha? ou Reino Unido? Na Copa do Mundo eles disputam como Inglaterra, Gales e Escócia, separadamente. Mas nas Olimpíadas eles se unem e disputam como Reino Unido. Ou seria Grã-Bretanha? Que porra é essa?

A União Européia só fez complicar as coisas. Tem gente que quer conhecer a Europa, aí eu pergunto qual o país(es), e eles dizem: Europa.

A moeda da Nova Zelândia se chama New Zealand Dollar. O rosto da Rainha Elizabeth II está presente em todas as moedas (do lado da coroa é claro, haha) e nas cédulas de 20 pilas. E isso também influencia a idéia de que o país, apesar de independente, ainda está fortemente amarrado ao solo britânico (ou seria inglês?).

Vamos para a Ásia agora: Eles chamam de asians (asiáticos) os povos do leste e sudeste da Ásia. Todos os que tem olhos puxados. Semelhante ao nosso "japa" que não significa somente japonês. E as pessoas da Índia eles chamam de indians, e nunca asians, apesar do país pertencer ao continente asiático.

E os Estados Unidos eles chamam de América. Que também é o nome do continente. Então para eles o continente americano tem três países: Canadá, América e Latin America. Alguns acham que Canada e USA são a mesma coisa, por terem basicamente o mesmo sotaque. Um dos grandes culpados disso tudo é Keanu Reeves, que não passa de um impostor, sempre-mesma-cara ator, e está na minha lista negra de atores jaguara de Hollywood. Mas isso é história pra outro dia.

Às vezes eles chamam Latin America de Brazil. Às vezes de México. Muitos pensam que o Carlos Santana é brasileiro. E é exatamente por isso que eles acham que samba, rumba, tango e salsa são tudo a mesma coisa. E dentro deste cenário acontece uma das coisas que mais odeio genuinamente na vida: é quando alguém diz que conhece um brasileiro e quer me aprensentar, e quando chego lá é um argentino.

Resumindo: para eles aqui é difícil assimilar a idéia de país e continente.

Agora para finalizar: tem uma espécie de dança com ginástica aeróbica que virou moda por aqui recentemente. Se chama ZUMBA. É uma metamorfose de tudo isso que falei até agora. Fiquei sabendo desta nova sensação da seguinte maneira:

Kiwi: Ed, you know Zumba, don't you?
Eu: Never heard of, what's that?
Kiwi: It's a dance from Brazil...

Wednesday, 7 April 2010

Amaral e o Guarda-Chuva do Avô

Existe uma comunidade no Orkut chamada 'Explicações Catarinas'. Provavelmente criada por não-catarinenses, perdidos no trânsito, frustados ao receber tanta informação errada de como chegar à um determinado local. Naquela comunidade as pessoas xingam nós, Catarinas, por explicarmos que para chegar numa determinada praia é só pegar a segunda direita, ir toda-vida-reto, depois de uma árvore tem uma igreja e faz a volta e pega a terceira rua da esquerda, e toda-vida-reto até acabar. E depois sobe o morro e desce o morro e pega às esquerda denovo, e talí ó.

Como são inocentes. Vai levar algum tempo ainda para eles aprenderem que fazemos isso de propósito. Esses turistas que só vão para a praia no verão, com seus carros com som alto tocando as últimas músicas das paradas, não são bem vindos na nossa terrinha. Muitos de vocês vão concordar comigo. A poluição cultural é simplesmente insuportável. Além de perturbarem a fluidez de nosso trânsito, e contribuirem para o aumento absurdo dos preços de tudo, durante aquela época do ano.

Hoje em dia esta comunidade já não xinga nós. Ela é relativamente carinhosa conosco e gosta da nossa maneira de falar. Talvez para tentar agradar, em troca de receberem informações corretas na próxima vez em que viajarem por nossas terras. Como são inocentes.

Assim como toalhas de banho, guarda-chuvas são objetos muito úteis. Eu aprendi isso um dia. E também são muito fáceis de se perder, especialmente naqueles dias que está chovendo pela manhã e faz sol depois do almoço. Ninguém se lembra deles na hora de ir embora. E para onde eles vão? Todos perdem, ninguém acha. Um mistério a ser desvendado.

Era um dia de verão no Gravatá. Mais precisamente um dia chato de verão no Gravatá. Um daqueles dias de chuva que só servem para fazer experimentos científicos, como por exemplo, descobrir se a Coca-Cola perde mais gás ao abrir a garrafa bem devagar (tssssssshhhhhhh!), ou rapidamente num só golpe (TSCH!). Após muitos estudos e deliberações, Tiago, Cebola, Guto Baiano, Maçaneiro e outros participantes concluíram que não chegaram à conclusão alguma.

E foi num destes dias chatos de chuva, que peguei o guarda-chuva do meu avô e fui caminhando até a casa do Dado. A chuva havia parado logo depois que cheguei lá. E como não queria desapontar meu avô, retornando para casa de mãos vazias, aguarrei firmemente o guarda-chuva e me concentrei bastante para não vacilar e largá-lo no chão: foi uma boa decisão.

Infelizmente uma turma de turistas de outro estado brasileiro conseguiu chegar no seu destino. Talvez algum conterrâneo nos traiu ou foi comprado, e forneceu as coordenadas corretas. Por muito azar o destino era uma casa exatamente na frente da casa do Dado. E eram mais um destes tipos babacas que deixam o carro aberto com som altíssimo tocando música brega, sem respeito algum à harmonia de uma rua de família, pacata e tranquila. Eram daqueles que deixam o carro na calçada todo escancarado com o som talado no último, e ficam sentados na varanda tomando cerveja em lata, desde manhã cedo. E à noite vão lá no canto da praia, onde se reúnem com outros milhares de Homo moronicus, para fazerem fiasco em grandes proporções.

Sequer prestam atenção à música. O barato deles é simplesmente ter barulho em volta. Nada de som de passarinhos ou da brisa do mar batendo nas árvores.

O barulho já tomava conta daquela tarde naquela rua já fazia algum tempo. E foi no momento em que o tio Ricardo pediu com gentileza para eles baixarem o som, e eles em resposta mandaram-lhe calar a boca, que tudo começou. Nós ali sentados no muro já pulamos para a calçada, de peitinho estufado e dando de dedo, bem valentes. E o alvoroço tomou conta daquela pacata rua naquela tarde sem graça de verão. Primeiro foram as discussões verbais. Onde ninguém entende nada no meio de tanta gente xingando tantas outras, com diálogos sujos e atravessados: pau nó cú daqui, viado dali, tua mãe acolá, filha da puta pra tudo que é lado, etc.

A tensão foi aumentando e num determinado momento eu me vejo parado exatamente no meio da rua. E num rápido giro de 360 graus, eu vejo todo mundo se pegando no pau. Eu nitidamente conseguia enxergar os sons dos golpes, como ao ler gibis do Batman: Whamm! Kapow! Sock! Pow! Os movimentos não eram exatamente como nas lutas coreografadas de filme: estava mais para um tipo patético de puxa camisa daqui e empurra dali do que qualquer outra coisa.

Quando acabo de completar minha rotação, eu vejo que o Dado estava há poucos passoa à minha frente, segurando um dos caras por trás. Olhei para o guarda-chuva na minha mão. Olhei para o Dado segurando o cara. E dei uma guarda-chuvada bem na cara dele (do cara, não do Dado). A palavra referente ao golpe que surgiu no ar naquela hora foi Zap!

Uma extrema comoção tomou conta daquele lugar. Já tinha senhora saindo gritando pela porta da casa, num ritmo de bafafá e balbúrdia geral. E a briga terminou tão rápido quanto havia começado. Neste momento alguém disse que a polícia já estava à caminho.

Para mim, particularmente, a briga foi só vantagem: golpes aplicados: um, golpes recebidos: zero. E o guarda-chuva ainda na minha mão, intacto.

O Juninho de Curitiba (apesar de não ser Catarina ele é da turma) estava munido de um pedaço de pau exatamente na hora que lá vinham viaturas da polícia dobrando a esquina, com sirene, camburão e tudo mais. Neste momento a confusão já havia sido percebida por moradores das ruas vizinhas. E os homens da lei, utilizando-se das suas grandes espertezas em tomarem decisões precipitadas, baseadas em breves e superficiais observações de incidentes em geral, já estavam levando o Juninho pelos braços, quando novamente houve uma grande comoção geral, ao tentar explicar que haviam pego a pessoa errada.

No fim os forasteiros levaram um pito e passaram o resto do dia dentro de casa. Não perderam muito, pois era um dia de chuva. Tiveram que se contentar em tomar cerveja em lata dentro de casa, em silêncio. E no dia seguinte fizeram as malas e retornaram para sua terra, longe de Santa Catarina.

O que também retornou foi o guarda-chuva. Retornou são e salvo para a casa de praia dos meus avós, orgulhoso e cheio de histórias para contar.

Thursday, 25 March 2010

Irish Beef Stew

Não sou fã de cerveja Stout. Nem de cerveja preta em geral. Nunca gostei de Malzbeer (é assim que se escreve? ou é Malzbier?). Muitos amigos meus gostam, mas para mim tinha gosto de ferrugem. Não que já havia lambido um pedaço de ferro oxidado, mas é aquela coisa inexplicável que costumo chamar 'o gosto do cheiro', ou 'o cheiro do gosto'. Exemplo: um biscoito velho num pacote aberto há alguns dias pode ter gosto de 'armário da casa da praia em Novembro'. Não que já lambi ou comi um armário, nem atrás do armário, especialmente em Novembro. Mas é aquele cheiro típico de casa fechada por muito tempo, e por algum motivo misterioso está presente no biscoito.

Cerveja vermelha tudo bem: Bock, Indian Ale, etc. Gosto do sabor e tem bem a ver com inverno. Quando se fala em stout beer a primeira palavra que vem na cabeça é Guinness: provei uma pela primeira vez num St. Patrick's Day uns 3 anos atrás. Não gostei do sabor e achei bem pesada e parece choca. Guinness em lata vem com uma bolinha dentro, como nas latas de spray. Acho que é pra não deixar acumular sedimentos no fundo. Muito estranho. E diz que é pra tomar bem gelada. Mas a galera toma quente e não está nem aí.

Mas mesmo assim eu sempre fui interessado em tentar cozinhar com essa cerveja. Álcool não é só para beber. Para muitos isso pode parecer um desperdício, principalmente pelo fato de que todo o álcool evapora, e ninguém fica bêbado ao comer um prato que leva vinho ou cerveja.

Um dos pratos mais típicos da Irlanda é o stew (carne de panela), que pode ser com cordeiro ou carne de boi. A cor e consistência são semelhantes ao molho madeira, e é uma delícia, um favorito nas noites frias de inverno e também no St. Patrick's. Assim como a feijoada, existem milhões de receitas e variações. A receita que fiz é bem básica e utiliza os ingredientes mais tradicionais. Esta receita é com certeza a mais complexa, a nível de execução, que já postei até agora. E também consome bastante tempo. Mas dou a maior força e incentivo para tentarem. Dá um trabalhinho mas vale a pena!



Irish Beef Stew with Mashed Potatoes (Carne de Panela Irlandesa com Purê de Batata)

Rendimento: 4 porções


Ingredientes do Stew:


- 1 cebola média picada;

- 5 dentes de alho picados;

- 800g carne (coxão mole ou outra) cortada em cubos;

- 3 colheres (sopa) de farinha de trigo;

- 1 cubo de caldo de carne;

- 350ml de cerveja tipo Stout (Guinness, Murphy's, etc)

- água quente;

- 3 cenouras médias cortadas em cubos pequenos;

- 2 folhas de louro
;
- 2 ramos de tomilho
(thyme);
- 1 colher (sopa) de açúcar;

- 3 colheres (sopa) de extrato de tomate;

- óleo;

- sal e pimenta à gosto;

- tempero verde para decorar;


Ingredientes do Purê:


- 1kg de batatas descascadas e cortadas em cubos pequenos;

- água;

- 2 colheres (sopa) de manteiga ou margarina;

- sal à gosto;

- uma pitada de noz moscada;

- 100ml de leite;


Modo de preparo: Numa panela grande adicione óleo, cebola e alho. Refogue por 3-4 minutos. Retire da panela. Adicione 1 terço da carne e doure em fogo alto por 2 minutos. Retire e repita o mesmo processo com a segunda e terceira porção. O objetivo é dourar a carne sem causar espuma na panela. Por isso a carne é dourada em pequenas porções.

Retorne toda a carne para a panela. Adicione a farinha, espalhando uniformemente sobre a carne. Mexa até que a farinha se misture bem. Retorne o alho e a cebola para a panela. Adicione o cubo de carne moído ou dissolvido na água. Adicione água até que toda a mistura fique coberta. Mexa e cozinhe em fogo médio por 5 minutos.


Adicione a cerveja, cenoura, tomilho, louro, açúcar e o extrato de tomate. Cozinhe por 1 hora em fogo baixo, mexendo ocasionalmente.


Enquanto isso faça o purê: Adicione as batatas na panela e cubra com água. Cozinhe até que amoleçam (10-15 minutos). Drene as batatas e coloque-as numa bacia ou de volta à mesma panela. Adiocione o sal, leite, uma pitada de noz moscada e a manteiga. Amasse e misture até que fique uniforme. Se ficar muito duro, adicione um pouco mais de leite.


Voltando ao stew: A gordura que acumula no topo do stew pode ser retirada com uma colher. Após 1 hora cozinhando adicione o sal e a pimenta e pronto! Sirva com tempero verde sobre o stew. Bon appétit!



Thursday, 7 January 2010

2009 Amaral Music Awards

Feliz ano novo a todos vocês meus caros leitores deste blog. Ainda continuando com discos, meu primeiro post de 2010 será a distribuição dos troféus da primeira edição do Amaral Music Awards. Imagino que tenha ouvido muito menos álbums do que deveria ter ouvido durante o ano, para poder julgar o melhor (e o pior), mas vou distribuir os prêmios mesmo assim:


Melhor álbum de 2009 (Brasil): Otto - Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos



Grande trabalho deste músico pernambucano, mostrou amadurecimento em sua carreira com letras cheias de emoção e músicas com ritmos bem variados e bem arranjadas. Muito recomendado.



Melhor álbum de 2009 (Internacional): Pearl Jam - Backspacer



Pearl Jam é como um bom vinho, fica melhor a cada ano que passa. Eddie está muito inspirado neste disco, cantando muito bem e compondo grandes canções. E a banda não deixa a desejar também com melodias expertas. Um ótimo disco de rock.



Artista Revelação do Ano: Them Crooked Vultures - Them Crooked Vultures



Them Crooked Vultures, um dos nomes de banda mais descolados que já ouvi. Esta superbanda é um projeto formado por ninguém menos do que Dave Ghrol (Nirvana, Foo Fighters), John Paul Jones (Led Zeppelin) e Josh Homme (Queens of the Stone Age) e tem um som incrível. Mais incrível ainda é ver o dinossauro que é o John mandando muito bem no baixão em músicas um tanto que alternativas e bem diferentes da época de ouro dele. Scumbag Blues é bem vintage, bem estilo Cream, e o resto das musicas soam um pouco QOTSA e Foo Fighter às vezes. Muito legal.



Troféu Lata de Lixo: Chris Cornell - Scream



Confesso que quando baixei o disco achei que tinha vindo outro álbum por engano. Mas não, era a voz dele. Então pensei que algum DJ fez uma versão hip-hop do disco. Mas não, era o disco mesmo. Absolutamente uma aberração, como pode um dos caras que mais influenciou o som dos anos 90 ter feito uma merda dessas? Sinceramente, até o Chinese Democracy é melhor. Um verdadeiro lixo.