Wednesday, 7 April 2010

Amaral e o Guarda-Chuva do Avô

Existe uma comunidade no Orkut chamada 'Explicações Catarinas'. Provavelmente criada por não-catarinenses, perdidos no trânsito, frustados ao receber tanta informação errada de como chegar à um determinado local. Naquela comunidade as pessoas xingam nós, Catarinas, por explicarmos que para chegar numa determinada praia é só pegar a segunda direita, ir toda-vida-reto, depois de uma árvore tem uma igreja e faz a volta e pega a terceira rua da esquerda, e toda-vida-reto até acabar. E depois sobe o morro e desce o morro e pega às esquerda denovo, e talí ó.

Como são inocentes. Vai levar algum tempo ainda para eles aprenderem que fazemos isso de propósito. Esses turistas que só vão para a praia no verão, com seus carros com som alto tocando as últimas músicas das paradas, não são bem vindos na nossa terrinha. Muitos de vocês vão concordar comigo. A poluição cultural é simplesmente insuportável. Além de perturbarem a fluidez de nosso trânsito, e contribuirem para o aumento absurdo dos preços de tudo, durante aquela época do ano.

Hoje em dia esta comunidade já não xinga nós. Ela é relativamente carinhosa conosco e gosta da nossa maneira de falar. Talvez para tentar agradar, em troca de receberem informações corretas na próxima vez em que viajarem por nossas terras. Como são inocentes.

Assim como toalhas de banho, guarda-chuvas são objetos muito úteis. Eu aprendi isso um dia. E também são muito fáceis de se perder, especialmente naqueles dias que está chovendo pela manhã e faz sol depois do almoço. Ninguém se lembra deles na hora de ir embora. E para onde eles vão? Todos perdem, ninguém acha. Um mistério a ser desvendado.

Era um dia de verão no Gravatá. Mais precisamente um dia chato de verão no Gravatá. Um daqueles dias de chuva que só servem para fazer experimentos científicos, como por exemplo, descobrir se a Coca-Cola perde mais gás ao abrir a garrafa bem devagar (tssssssshhhhhhh!), ou rapidamente num só golpe (TSCH!). Após muitos estudos e deliberações, Tiago, Cebola, Guto Baiano, Maçaneiro e outros participantes concluíram que não chegaram à conclusão alguma.

E foi num destes dias chatos de chuva, que peguei o guarda-chuva do meu avô e fui caminhando até a casa do Dado. A chuva havia parado logo depois que cheguei lá. E como não queria desapontar meu avô, retornando para casa de mãos vazias, aguarrei firmemente o guarda-chuva e me concentrei bastante para não vacilar e largá-lo no chão: foi uma boa decisão.

Infelizmente uma turma de turistas de outro estado brasileiro conseguiu chegar no seu destino. Talvez algum conterrâneo nos traiu ou foi comprado, e forneceu as coordenadas corretas. Por muito azar o destino era uma casa exatamente na frente da casa do Dado. E eram mais um destes tipos babacas que deixam o carro aberto com som altíssimo tocando música brega, sem respeito algum à harmonia de uma rua de família, pacata e tranquila. Eram daqueles que deixam o carro na calçada todo escancarado com o som talado no último, e ficam sentados na varanda tomando cerveja em lata, desde manhã cedo. E à noite vão lá no canto da praia, onde se reúnem com outros milhares de Homo moronicus, para fazerem fiasco em grandes proporções.

Sequer prestam atenção à música. O barato deles é simplesmente ter barulho em volta. Nada de som de passarinhos ou da brisa do mar batendo nas árvores.

O barulho já tomava conta daquela tarde naquela rua já fazia algum tempo. E foi no momento em que o tio Ricardo pediu com gentileza para eles baixarem o som, e eles em resposta mandaram-lhe calar a boca, que tudo começou. Nós ali sentados no muro já pulamos para a calçada, de peitinho estufado e dando de dedo, bem valentes. E o alvoroço tomou conta daquela pacata rua naquela tarde sem graça de verão. Primeiro foram as discussões verbais. Onde ninguém entende nada no meio de tanta gente xingando tantas outras, com diálogos sujos e atravessados: pau nó cú daqui, viado dali, tua mãe acolá, filha da puta pra tudo que é lado, etc.

A tensão foi aumentando e num determinado momento eu me vejo parado exatamente no meio da rua. E num rápido giro de 360 graus, eu vejo todo mundo se pegando no pau. Eu nitidamente conseguia enxergar os sons dos golpes, como ao ler gibis do Batman: Whamm! Kapow! Sock! Pow! Os movimentos não eram exatamente como nas lutas coreografadas de filme: estava mais para um tipo patético de puxa camisa daqui e empurra dali do que qualquer outra coisa.

Quando acabo de completar minha rotação, eu vejo que o Dado estava há poucos passoa à minha frente, segurando um dos caras por trás. Olhei para o guarda-chuva na minha mão. Olhei para o Dado segurando o cara. E dei uma guarda-chuvada bem na cara dele (do cara, não do Dado). A palavra referente ao golpe que surgiu no ar naquela hora foi Zap!

Uma extrema comoção tomou conta daquele lugar. Já tinha senhora saindo gritando pela porta da casa, num ritmo de bafafá e balbúrdia geral. E a briga terminou tão rápido quanto havia começado. Neste momento alguém disse que a polícia já estava à caminho.

Para mim, particularmente, a briga foi só vantagem: golpes aplicados: um, golpes recebidos: zero. E o guarda-chuva ainda na minha mão, intacto.

O Juninho de Curitiba (apesar de não ser Catarina ele é da turma) estava munido de um pedaço de pau exatamente na hora que lá vinham viaturas da polícia dobrando a esquina, com sirene, camburão e tudo mais. Neste momento a confusão já havia sido percebida por moradores das ruas vizinhas. E os homens da lei, utilizando-se das suas grandes espertezas em tomarem decisões precipitadas, baseadas em breves e superficiais observações de incidentes em geral, já estavam levando o Juninho pelos braços, quando novamente houve uma grande comoção geral, ao tentar explicar que haviam pego a pessoa errada.

No fim os forasteiros levaram um pito e passaram o resto do dia dentro de casa. Não perderam muito, pois era um dia de chuva. Tiveram que se contentar em tomar cerveja em lata dentro de casa, em silêncio. E no dia seguinte fizeram as malas e retornaram para sua terra, longe de Santa Catarina.

O que também retornou foi o guarda-chuva. Retornou são e salvo para a casa de praia dos meus avós, orgulhoso e cheio de histórias para contar.

4 comments:

Tiago Cruz said...

fenomenal... dei várias risadas lendo o texto... abração aí amaral!

ricardo said...

Muito boa sua versão da história, que, baseada em fatos reais que realmente aconteceram de verdade.
Lembro ainda hoje do nome de alguns dos adversários, como o Dolph Landgreen (se escreve assim não sei...), o Van damme...
e faltou a parte do dolh batendo no Ricardo pai, joão pendurado feito papagaio e Juninho (eu) correndo atrás...
abraço

Unknown said...

E aiii amaral, show de bola!! Faz falta aki meu brother!!
Abraxxx JUNINNHO d ctba!!

Anonymous said...

Pode crer esses caras de fora vem se achar e fazer merda aqui em SC. Na Oktober é a mesma coisa, se bem que due uma melhorada nos ultimos anos. O problema é que quando a gente via p/ outra cidade também faz merda. Quando andava de moto, lembro ter arrumado confução em várius lugares. As vezes apanhei, as vezes bati, em outras sai fugido...

Rodrigo